Muitas vezes, nós caçadores, "somos acusados" de sermos uns principais causadores de mortandade e deficiência física de animais, nomeadamente devido à utilização de armas de fogo, com o típico discurso "...atiram a tudo o que mexe!".
Através de um amigo, tive o privilégio de conhecer virtualmente a associação Aldeia e o projecto CERVAS.
Este projecto de um modo geral dedica-se à ecologia, recuperação e vigilância de animais selvagens, elaborando anualmente um relatório discriminativo de toda a sua actividade.
As conclusões do referido relatório são inequívocas e "chumbam", ironia à parte, o argumento referido no primeiro parágrafo.
No universo de 301 animais (vivos e mortos) que deram entrada no CERVAS, "apenas" cinco foram resultantes de "tiro/disparo", conforme se pode comprovar na página 53 do relatório, sendo que a principal causa de entrada foi a queda do ninho, seguido do atropelamento.
Aceitando a queda do ninho como circunstância natural, fica o atropelamento como a principal causa de morte "não natural", ou seja, através de acção humana, e aqui a responsabilidade pode ser transversal a todos, caçadores e não caçadores.
Esta causa, em grande parte, resulta da diminuição do território natural das espécies e à expansão urbanística/rodoviária desordenada do nosso território nacional.
Citando o meu amigo:
"...mais importante, permite-me continuar a insistir que falta um debate profundo e sério sobre o equilíbrio dos nossos ecossistemas, a sua relação directa com os valores tradicionais da caça e da agricultura e a necessidade imperiosa de criar conhecimento sobre o que fazer para que o campo produza a biodiversidade necessária ao seu equilíbrio e papel fundamental das espécies cinegéticas no mesmo.
A entidades como a CERVAS, comunidade cientifica, associações de agricultores e caçadores, autoridades locais e de fiscalização, defensores da natureza, órgãos de soberania e outros, deixo o desafio para se pensar e transmitir conhecimento..."
Como caçador, amante da natureza e de toda a biodiversidade, elogio o trabalho desenvolvido pela referida associação, lamentando apenas, que como seus parceiros não exista uma única associação representativa dos caçadores.
João Pereira